sábado, 13 de abril de 2013

'Minha profissão é ser atriz e não transexual', diz a Anita de 'Salve Jorge'

FONTE: O DIA

Rio -  Tão logo surgiu em “Salve Jorge” como Anita, transexual que sonha em ganhar uma operação de mudança de sexo e cai na lábia da malvada Wanda (Totia Meirelles), Maria Clara Spinelli viu que seu “segredo” estaria exposto para todo o país. Não que ela se envergonhe, claro. Ocorre que, como sua personagem, a atriz já passou pela angústia de estar presa a um corpo diferente de sua orientação sexual.


Para resolver o problema, Maria Clara passou pelo procedimento médico de readequação de gênero e hoje não deve mais ser considerada uma transexual. É uma mulher – inclusive nos documentos – cheia de sonhos e com muita vontade de trabalhar. Tão confortável está a artista com sua atual condição que quando estreou no cinema, como uma das protagonistas do longa “Quanto Dura o Amor?”, causou surpresa em boa parte da crítica, que se quer desconfiou que a bela mulher havia nascido num corpo de rapaz.
Moradora de Assis, no interior de São Paulo, Maria Clara se divide entre o trabalho de funcionária pública e o teatro. Discreta, evita dar detalhes sobre a cirurgia de readequação sexual (“Foi a long time ago, sweet…”) e se prepara para encarar cenas fortes na trama das nove. Na próxima semana, Anita desembarcará no exterior e será recebida por Russo (Adriano Garib). Ao descobrir que caiu numa cilada, será agredida pelo bandido. Além disso, Maria Clara pode se considerar uma pioneira. É a primeira ex-transexual a ganhar um papel fixo numa novela das nove. A atriz conversou com a coluna.
Como conseguiu o papel de Anita em Salve Jorge: teste ou convite?
MARIA CLARA SPINELLI: Convite. Foi tudo uma surpresa. Me ligaram na segunda à tarde para eu gravar na terça. A cena foi ao ar na quarta.
Já assistia a novela antes? Aliás, você é noveleira?
MARIA CLARA SPINELLI: Assisti no começo. Depois comecei a cursar artes visuais à noite, e só conseguia acompanhar a novela de vez em quando. Já fui muito noveleira. Adoro e desde criança vejo novelas. O que sempre mais me encanta são as interpretações das grandes atrizes. Uma memória recente é a personagem Dulce, interpretada por Cássia Kiss em “Morde & Assopra”. Me lembro de parar em frente a TV para admirar sua grandiosidade em cena.
O que há em comum entre você e Anita?
MARIA CLARA SPINELLI: Muitas coisas. Tento buscar todas as personagens dentro de mim, não há outro caminho. Anita e eu tivemos sonhos parecidos (o de readequar a condição sexual). É uma dor familiar. Mas ela tem muito a me ensinar com sua alegria de viver.
Vivendo plenamente na condição de mulher, inclusive nos documentos, você poderia optar por esconder o fato de que foi transexual. Por que tornar pública sua ex-condição?
MARIA CLARA SPINELLI: Ótima pergunta. A resposta sobre o porquê tornar pública essa minha individualidade tão íntima é uma só: a necessidade de ser atriz. Antes de “Quanto Dura o Amor?” eu já havia sido convidada para fazer outro filme. Na época recusei porque não queria me expor, depois de tanto sofrimento, e deixar de ter a chance de viver plenamente na minha verdadeira condição. Mas, com o passar do tempo, descobri que ser atriz para mim vai muito além de qualquer vaidade ou outro sentimento menos nobre. Ser uma Atriz/Criadora é a maneira com que me sinto conectada com o mundo, é quando minha vida faz sentido, é quando me sinto útil de alguma forma para as pessoas. Percebendo isso, descobri que também deixaria de ser plena, como ser humano, se abrisse mão disso. Então, esse é o preço que eu pago para ser atriz. Não há outra opção.
Acha que pode ajudar a combater o preconceito em tempos nos quais tanto se fala da sexualidade?
MARIA CLARA SPINELLI: Sim, a função do Artista é, também, ser um farol para a sociedade. Não escolhi expor minha individualidade. Mas, se ela ainda é um tabu tão forte para a sociedade eu, enquanto figura pública, posso servir para tentar esclarecer um pouco sobre algo que ainda choca tanto as pessoas. E, assim, ajudar a iluminar o caminho de outros que passam pelo mesmo problema que eu passei.
Há alguma dificuldade no trato das pessoas com você? É verdade que na Globo perguntaram seu nome “verdadeiro” antes de saber que sua situação mudou também nos documentos?
MARIA CLARA SPINELLI: Essa dificuldade só passa a existir a partir do momento em que as pessoas sabem sobre a minha história. Neste momento, há uma mudança visível na maneira com que me olham. E isso acontece de uma forma geral, na verdade. Nem sempre consigo entender o porquê. Mas, se isso ainda acontece tanto, é porque há uma grande necessidade de desfazer esse tabu que existe em torno das pessoas que nasceram transexuais. Isso não quer dizer que eu não seja bem tratada, muito pelo contrário. Se as pessoas conseguem vencer seu preconceito sobre algo que elas não conhecem e se dão a chance de conviver comigo, me conhecer, tudo fica bem. Então, quem sabe eu tenha a chance de fazer isso publicamente também. Que as pessoas conheçam melhor uma mulher, uma atriz, que nasceu transexual e descubram que, no fundo, é alguém muito parecido com elas. Sempre fui muito bem tratada na Globo, desde o recepcionista até o diretor-geral da novela. E sou muito grata por isso.
Acha que ainda falta muito para que as pessoas e os diretores entendam que você pode fazer um papel de mulher, sem precisar dar vida somente a travestis e transexuais?
MARIA CLARA SPINELLI: Acho que, a partir de agora, há uma possibilidade maior de olharem para meu trabalho. Se eu fizer um bom trabalho, verão uma boa atriz (e não uma boa transexual). E ter uma boa atriz fazendo parte de seus projetos não é o desejo de todos os diretores/autores/produtores? (risos) Então, a ideia de que eu possa fazer um papel diferente de uma personagem transgênero pode passar pela cabeça deles…
Em “As Filhas da Mãe”, Cláudia Raia deu vida a uma transexual. Chegou a assistir? Ja teve a oportunidade de conhecer Cláudia?
MARIA CLARA SPINELLI: Sim, assisti. Mas não me lembro muito da história. Sei que o mistério de que se a personagem era ou não transexual permeava a trama, algo um pouco familiar… (risos). Cláudia Raia sempre brilhante em tudo que faz. Bela escolha de atriz para a personagem. Ainda não tive a oportunidade, mas gostaria muito de conhecê-la.
Você foi revelada no cinema como uma das protagonistas de “Quanto Dura o Amor?”. Por que acha que não houve mais convites para atuar entre o filme e a novela?
MARIA CLARA SPINELLI: Esse foi um período de sofrimento para mim, entre o filme e a estreia na TV. No começo eu não entendia, depois caiu a ficha. Assim como as pessoas não estão preparadas para lidar com o fato de que eu nasci transexual, quando ficam sabendo sobre isto, a “indústria do entretenimento” também não sabe direito o que fazer com uma atriz que nasceu transexual. O equívoco já começa, muitas vezes, no rótulo que me colocam: “atriz transexual”. Creio que isso não existe. Sou uma atriz e ponto. Então, esse estranhamento em lidar com alguém que transitou entre os gêneros, e na cabeça das pessoas não está definido se é homem ou se é mulher, causa essa barreira em se olhar apenas para o conteúdo artístico que esse profissional pode oferecer. Minha profissão é ser atriz, e não transexual.
É uma batalha pelo reconhecimento de seu trabalho.
MARIA CLARA SPINELLI: Tudo isso toda me coloca numa situação muito difícil, porque me tira a chance de lutar de igual para igual com outras atrizes, por mais que eu trabalhe ou me dedique para conseguir um papel. Quando entendi isso, foi olhar para uma realidade muito difícil, porque não é justa (risos). E não há muita coisa que eu possa fazer a respeito. Acredito que está começando a acontecer um grande avanço nesse sentido, que pode parecer pouco, mas não é. Quando eu vi a grande atriz Rogéria interpretando uma senhora, mãe da personagem interpretada por Maria Padilha, numa delicada novela de época no horário das 18h, eu vibrei. Não só porque Rogéria merece essa homenagem, mas porque, enfim, a televisão estava dando um grande passo em relação ao reconhecimento do valor do Artista em primeiro lugar, deixando em segundo plano aspectos da sua vida pessoal. Por isso, hoje, e sou muito grata a Gloria Perez, que teve a coragem de bancar isso: em horário nobre, numa obra que talvez seja a mais vista da televisão brasileira, num momento de picos de audiência, ela acreditou no meu trabalho, independente de minha individualidade um tanto quanto incomum. Salve Gloria!
Como sua família está reagindo à exposição na novela? Aliás, eles aceitaram bem o seu período de transição?
MARIA CLARA SPINELLI: Minha família é minha mãe. Tudo que tenho de melhor é graças a ela. Minha mãe é uma pessoa que tem uma firme consciência das coisas que realmente têm valor na vida. Uma pessoa que nunca se deslumbraria com a fama, por exemplo. Acho que herdei isso dela, ou ela me ensinou. Sobre o período de transição, foi uma fase da vida para tentarmos evoluir juntos, de aprendizado, para mim e para todas as pessoas que me amavam. Foi doloroso e difícil. Mas todos nós nos tornamos melhores depois de passar por isso. Então, tudo valeu a pena.
Passou a ser reconhecida nas ruas de Assis? Aliás, além de atriz, você tem outro trabalho na cidade?
MARIA CLARA SPINELLI: Acho que sou reconhecida nas ruas de Assis desde que nasci… (risos) Agora só vai ser um pouco (ou muito) pior. Essa parte da “fama” não me agrada. Gosto de ter privacidade. Mas não há escolha quanto a isso. Sim, eu tenho outro trabalho, como funcionária pública.
Qual seu maior sonho atualmente?
MARIA CLARA SPINELLI: Ter um único trabalho: Atuar.
Anita terá cenas fortes com Russo e chegará a apanhar. Acha que a personagem pode ganhar um final feliz?
MARIA CLARA SPINELLI: Acho, por que não? Mas, assim como na vida, nem sempre a felicidade está no final. Muitas vezes nosso final pode ser de redenção.
As informações são de Fernando Oliveira, do iG 


DC Comics apresenta a sua primeira personagem transexual

FONTE: VEJA SP


Depois do beijo gay entre Wolverine e Hercules (numa realidade paralela do universo Marvel, pessoal, acalmem-se) e da saída do armário de Lanterna Verde, desta vez foi a vez da DC Comics apresentar uma nova personagem LGBT: mas, além de gays e lésbicas, a editora resolveu trazer ao mundo uma transexual. Alysia Yeoh, colega de quarto da Batgirl, revelará sua “identidade secreta” na revista Batgirl #19.
A autora da revista, Gail Simone, adiantou à revista Wired que Alysia também será bisexual – vale lembrar que Batwoman é lésbica. Veja o momento da conversa decisiva entre as colegas:
“A diversidade é o grande tema nos quadrinhos hoje”, disse Simone. Alysia será a “primeira transexual assumida em uma revista mainstream de super-heróis”. Que venham outras, certo?
Dê sua opinião: os quadrinhos acertam ao apostar na temática LGBT?